quarta-feira, 13 de agosto de 2008

ET



Amei a peça publicitária da cerveja Coors, com o sempre simpático ET pedindo para aos bêbados que plantão que telefonem para casa ao invés de dirigir. A clássica expressão Phone home funciona bem para quem está nasceu antes dos anos 80 (e depois dele, oras) em todo o território verde-amarelo! A tão polêmica Lei 11.705, que altera o Código de Trânsito Brasileiro, estabeleceu que o consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas por condutores de veículos está proibido. Antes, era permitida a ingestão de até 6 decigramas de álcool por litro de sangue: o equivalente a dois copos de cerveja. Quem for pego dirigindo depois de beber, além da multa de 955 reais, perderá a carteira de motorista por 12 meses.

Para se ter uma idéia, um copo de cerveja demora cerca de seis horas para ser eliminado pelo organismo. Mas o mais garantido é que o motorista dirija depois de 24 horas. Se estiver de ressaca e com sintomas provocados pela grande quantidade de álcool consumida, o melhor é ficar em casa. Este é o momento em que o álcool começa a ser tóxico e permanece no corpo por mais tempo. Sigam o exemplo do ET! E liguem! Além da pregressa responsabilidade de nunca dirigir quando se bebeu, agora é lei! Principalmente porque até a ressaca pode ser detectada como a ingestão de álcool.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Lar, doce lar




Acabo de ler A Arquitetura da Felicidade, de Alain de Botton. Segundo o filósofo suíço naturalizado britânico, as pessoas são profundamente influenciadas pela arquitetura à sua volta, não só da casa como do trabalho, e até das ruas. Dessa maneira, ela afetaria o humor e a sensibilidade, podendo afastar ou aproximar quem com ela convive. Entre outras coisas, Botton acredita que a beleza é tão importante quando a funcionalidade (Eu também. n.e.). Vale muito a pena ler. Pra provar, vai abaixo um trecho reproduzido do primeiro capítulo.

"Uma casa geminada numa rua arborizada. Hoje cedo, a casa ressoava com gritos de crianças e vozes de adultos, mas desde que o último ocupante partiu (com a sua mochila) há poucas horas, ela ficou sozinha para curtir a manhã. O sol surgiu por cima da empena dos prédios em frente e agora entra pelas janelas do andar térreo, pintando as paredes internas de um amarelo amanteigado e aquecendo a fachada de ásperos tijolos vermelhos. Dentro das faixas formadas pela luz do sol, partículas de pó movem-se como obedecendo ao ritmo de uma valsa silenciosa. Do vestíbulo, o murmúrio baixo do tráfego alguns quarteirões adiante pode ser percebido. Ocasionalmente a caixa de correio se abre para receber um folheto melancólico.

A casa dá sinais de gostar do vazio. Ela se reorganiza depois da noite, limpando os seus pulmões e estalando as juntas. Esta criatura digna e amadurecida, com suas veias de cobre e pés de madeira aninhados numa camada de argila, suportou muita coisa: bolas lançadas contra as laterais do seu jardim, portas batidas com raiva, tentativas de plantar bananeira ao longo dos seus corredores, o peso e os ruídos de equipamentos elétricos e encanadores inexperientes sondando as suas vísceras. Uma família de quatro pessoas, acompanhada de uma colônia de formigas ao redor das fundações e, na primavera, ninhadas de tordos nas chaminés. Ela também empresta um ombro a uma frágil (ou apenas indolente) ervilha-de-cheiro que se encosta no muro do jardim, regalando-se com a corte peripatética de um círculo de abelhas.

A casa se transformou numa testemunha bem informada. Foi cúmplice das primeiras seduções, vigiou os deveres de casa sendo feitos, observou bebês envoltos em cueiros recém-chegados do hospital, foi surpreendida no meio da noite por conversas sussurradas na cozinha. Experimentou noites de inverno, quando as suas janelas ficavam frias como sacos de ervilhas congeladas, e crepúsculos no auge do verão, quando as suas paredes de tijolos tinham o calor de um pão recém-saído do forno.

Ela proporcionou não apenas refúgio físico mas também psicológico. Tem sido uma guardiã da identidade. Ao longo dos anos, seus donos retornaram depois de períodos de ausência e, olhando ao redor, lembraram quem eles eram. As lajotas do pavimento térreo falam de serenidade e graça amadurecida, enquanto a regularidade dos armários da cozinha é um modelo de ordem e disciplina que não intimida. A mesa de jantar, com a toalha de oleado estampada com grandes botões-de-ouro, sugere uma explosão de alegria aliviada por uma carrancuda parede de concreto próxima. Junto da escada, pequenas naturezas-mortas com ovos e limões chamam a atenção para a complexidade e beleza das coisas cotidianas. Na prateleira sob a janela, um jarro de vidro com centáureas ajuda a resistir à atração da melancolia. No andar superior, uma sala vazia e estreita é espaço para tramar pensamentos revigorantes, sua clarabóia abre para nuvens impacientes que migram rápido sobre gruas e canos de chaminés.

Embora esta casa não tenha soluções para uma grande parte dos males que afligem seus ocupantes, seus aposentos são evidência de uma felicidade à qual a arquitetura deu a sua característica contribuição".